CãesAmigos

Dra. Michele Venturini na revista CãesAmigos

Matéria fala sobre como o hálito dos animais pode ser indicativo para problemas de saúde na boca.

A Dra. Michele Venturini falou à revista CãesAmigos sobre o famoso “bafinho” dos cachorros, que não é normal e pode ser sinal de problemas bucais.

“Assim como nós, os cães têm vários tipos de bactérias na boca. Elas acumulam-se sobre os dentes formando o que conhecemos como placa bacteriana.”

A matéria está na edição deste mês, número 57. Confira-a na íntegra logo abaixo.

Mau hálito em cães não é normal.

Quando eu era adolescente, uma de minhas amigas tinha um cachorrinho Teckel, o Chiclete, que com 10 anos de idade tinha um “bafo” terrível! Me lembro muito bem que não conseguíamos ficar no mesmo cômodo que ele e quando chegava perto para brincar ou quando tínhamos que levá-lo para passear, era um sofrimento. Ele ganhou o apelido de “bafo de fossa” de tão forte e desagradável que era a halitose dele. Até hoje, quando encontro minha amiga, lembramos do bafo do Chiclete!

Naquela época, eu nem tinha ideia de que aquele cheiro forte indicava uma doença grave que afeta 85% dos cães. Hoje sou médica veterinária, especializada na área de odontologia há 20 anos e posso dizer com toda propriedacde que o cão que tem saúde oral, não tem cheiro algum na boca. Um “bafinho” já indica problema, e problema grave.

Diga não ao bafinho

Assim como nós, os cães têm vários tipos de bactérias na boca. Elas acumulam-se sobre os dentes formando o que conhecemos como placa bacteriana. Em nossa cavidade oral, podemos sentir a placa quando passamos a língua sobre os dentes e sentimos uma camada espessa, rugosa. Quando escovamos nossos dentes e usamos fio dental, é esta camada que removemos, promovendo saúde aos dentes e gengiva. Mas quantos de nós escovam diariamente os dentes de seus amigos peludos?

Não fazer higiene diária permite que a placa bacteriana se organize, amadureça e cause inflamação da gengiva: a gengivite, que é um processo reversível no qual o cão já apresenta um “bafinho”. É hora de intervir! Se não houver tratamento imediato, a placa, com o tempo, se calcifica e forma o tártaro, normalmente presente sobre os dentes dos cães. E sobre ele, mais placa bacteriana se acumulará e a inflamação que inicialmente era apenas na gengiva, passará a comprometer as estruturas mais internas que sustentam o dente e que poderão ser destruídas. Nessa fase temos a doença periodontal, ou periodontite, que é grave, irreversível e o mau hálito fica cada vez mais forte.

A doença pode evoluir tanto que os dentes ficam abalados e caem sozinhos. Quando isso acontece é um alívio para o cão pois finalmente ele fica livre de dor, desconforto e de um foco de infecção. Isso mesmo, infecção! A doença periodontal, desde sua fase inicial (gengivite) até suas fases mais avançadas (periodontite) é uma infecção. E o pior, ela não compromete apenas a boca, mas todo o organismo pois as bactérias e seus produtos entram na circulação sanguínea e podem comprometer outros órgãos como coração, fígado e rins.

Como prevenir

Para prevenirmos essa doença tão prejudicial aos nossos amigos, o ideal é começar a escovar diariamente seus dentes desde filhotes para que eles se acostumem. Claro que a escovação dental diária não é a única forma de cuidarmos da saúde oral. Assim como nós, eles também precisam passar pelo dentista veterinário e fazer uma profilaxia, também chamada de limpeza de tártaro, uma vez ao ano, ou sempre que estiverem com hálito ruim, mesmo que eles tenham um ano ou 16 anos. Começou a ter o cheiro ruim na boca, mesmo que ele não tenha muito tártaro sobre os dentes, está na hora de um tratamento. Isso é prevenção. A cultura de deixar juntar mais tártaro para fazer o tratamento é errada.

Se seu cão nunca escovou os dentes e já estiver com os dentes comprometidos pela doença periodontal, é necessário fazer primeiro o tratamento periodontal para depois começar a escovar seus dentes. Iniciar a escovação com a doença instalada, só vai causar dor e não vai adiantar. É muito importante lembrar que para que o tratamento seja realizado de forma adequada, os cães precisam estar anestesiados. Hoje em dia, a anestesia inalatória com monitorização e a realização de exames pré-anestésicos nos permitem anestesiar qualquer paciente, com 3 ou 17 anos, com muita segurança.

Lembre-se sempre: a saúde começa pela boca!”

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