Revista Cães e Gatos

Dr. Daniel Ferro na Revista Cães e Gatos edição 183

O Dr. Daniel Ferro esteve presente na matéria especial sobre dentes fraturados, na edição 185 (Janeiro) da Revista Cães e Gatos.

Confira a seguir a matéria na íntegra:

Atenção especial aos dentes fraturados

Deixar um dente quebrado sem tratamento na boca de um paciente é negligência. É a única opção que não pode ser considerada. Somente um especialista é capaz de decidir e aplicar a técnica correta para que o problema não se agrave.

Seus pacientes não possuem tártaro nos dentes porque escova diariamente? Isso é excelente! Têm dentes brancos e além de tudo não têm aquele hálito insuportável? Sem dúvida, é um privilegiado, mas infelizmente isso não é tudo. Se ele quebrou um dente e você não viu ou se decidiu não fazer nada com ele, acredite, o pet tem uma bomba relógio na boca.

DENTES TÊM VIDA Os dentes dos cães e dos gatos são formados por um sistema externo que se liga ao osso da mandíbula e da maxila. Este sistema é chamado de periodonto e tem por função proteger e manter os dentes firmemente ligados à boca. Um segundo sistema localiza-se internamente aos dentes e é denominado endodôntico. Representa toda a porção interna e não é visível em dentes saudáveis. Ele é preenchido pelo tecido pulpar ou polpa dentária que contém os vasos sanguíneos responsáveis por nutrir os dentes, além dos nervos que lhes dão sensibilidade e células que permite que continuem ‘crescendo’, amadurecendo e respondendo a qualquer estímulo externo. Os vasos sanguíneos que nutrem a polpa penetram os dentes de cães e gatos por meio de pequenos orifícios na extremidade das raízes, em uma estrutura denominada delta apical.

QUANDO O DENTE SE QUEBRA Quando um animal traumatiza um dente (mastigando ou batendo) pode haver inflamação da parte interna causando a chamada pulpite (Figura 1). Mesmo quando não há fratura e o dente permanece íntegro, a pulpite pode estar instalada. Se o dente se quebra, a polpa pode ser atingida pela linha da fratura e então ser exposta para o meio bucal (Figura 2). Nesta condição, bactérias da boca contaminam os sistema endodôntico. A pulpite em cães e gatos frequentemente é irreversível devido à intensidade do trauma, ao grau de comprometimento da polpa, às condições desfavoráveis de infecção oral em que o animal se encontra (doença periodontal grave), entre outros fatores. A pulpite irreversível necessariamente leva à morte e necrose da polpa. Em cães e gatos a causa mais frequente de pulpite irreversível e morte pulpar é a fratura da coroa do dente, que leva à exposição da polpa e seu contato direto com as bactérias da boca (Figura 3). O dente canino superior é o dente mais acometido por fraturas nos cães e nos gatos, geralmente em virtude de traumas durante brincadeiras ou acidentes; além deste, o dente quarto pré-molar superior, conhecido como ‘carniceiro’, é também muito afetado nos cães, em geral, devido à mastigação de objetos muito duros. Se nada for feito para tratar, estas bacté- rias proliferam-se e tomam conta do dente internamente. Quando encontram um meio propício para continuar se desenvolvendo, as bactérias preenchem o dente com material infectante chegando até mesmo aos pequenos orifícios do delta apical. Nestas condições o sistema imunológico do animal pode não ser mais capaz de controlar a infecção, mesmo com auxílio de antibióticos. Quando este processo infeccioso se mantém, pode se formar abscessos ao redor das raízes do dente afetado. No caso de dentes como o quarto pré-molar superior de cães e o dente canino superior de gatos, que têm a extremidade de suas raízes muito próximas do osso abaixo dos olhos, o abscesso formado pode drenar através da pele e causar uma ferida grave. É a chamada fístula dentária ou fístula infraorbitária. O uso de antibióticos nestes casos pode controlar e mesmo fechar a ferida, mas se o dente não for tratado, o problema voltará. Dente quebrado dói, especialmente nos primeiros sete a dez dias após a fratura. Dente infectado, dói ainda mais. Cães e gatos comem mesmo nestas condições, não porque não sentem dor, mas porque têm fome. Portanto, não se pode deduzir se o pet sente dor na boca somente observando se ele está comendo. Animais com dor tornam-se mais quietos, podem esfregar o focinho no chão ou na parede, levar a pata à boca ou simplesmente jogar o alimento sempre para o lado oposto ao da dor.

COMO TRATAR UM DENTE FRATURADO? Há duas maneiras de tratar um dente Há duas maneiras de tratar um dente quebrado. A única opção que não pode ser aceita é ignorar o problema. A radiografia intra-oral é imprescindível para decidir como tratar o dente fraturado e, especialmente, para aplica- ção de ambas as técnicas (Figura 4). A primeira opção é a que se deve tentar com mais frequência, pois é ela que permite manter o dente na boca com sua função natural e livre da infecção. Trata-se do tratamento endodôntico, conhecido tradicionalmente como tratamento convencional de canal radicular. Este tratamento não é único e tem suas variações de acordo com a idade do animal e do tipo de fratura do dente, mas este é um tópico extenso e será tratada em edição futura da Cães&Gatos VET FOOD. O tratamento de canal consiste na remoção completa da polpa do dente afetado. Após limpeza e desinfecção do dente, ele é completamente preenchido por materiais inertes, bactericidas e bacteriostáticos a fim de impedir possíveis novas infecções bacterianas. Esta etapa é também conhecida como obturação do dente. Não é possível realizar um tratamento de canal radicular sem o uso de radiografias intra-orais durante o tratamento (Figura 5). Após o tratamento do canal o dente deve ser restaurado com resina composta (resinas com colorações próximas das cores dos dentes e que permitem um resultado estético muito bom). Esta restauração não visa à reconstrução da porção que foi perdida, mas somente o selamento do orifício por meio do qual foi feito o tratamento. Próteses de metal ou de porcelana são também indicadas após o tratamento de canal. As próteses têm por função a proteção do remanescente dental e a reconstrução estética da porção perdida do dente (Figura 6). A única alternativa para o caso do tratamento de canal não ser indicado, ou quando o proprietário não está de acordo, é a extração do dente fraturado (Figura 7). Há que se considerar, porém, que a extração de dentes caninos ou carniceiros é mais traumática e causa maior potencial de dor pós-operatória que o tratamento de canal. São dentes com raízes longas com ampla área de contato com o osso alveolar e frequentemente exigem abordagem cirúrgica para sua remoção (abertura de gengiva e mucosa, remoção de osso e sutura do tecido).

post-blog-passoapassodentequebrado

CONSIDERAÇÕES FINAIS Não há dúvida de que o objetivo da especialidade odontológica em veterinária é sempre o de manter os dentes dos animais e, em condições saudáveis. A presença dos dentes mantém um volume de osso adequado na boca e sua função mastigatória. Além disso, eles possuem importante papel social na interação e comunicação entre os animais e sua presença garante o fluxo adequado do fluído gengival, secreção que contém os principais componentes de defesa da boca. Cuidar dos dentes do pet é uma responsabilidade que deve começar pela prevenção. Ao constatar uma mudança, como dentes quebrados, o tratamento correto deve ser imediatamente instituído e só o veterinário especializado, usando das técnicas corretas, será capaz de definir qual a melhor escolha.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Tire suas dúvidas!